Ring Live from The Met

A quem queira ir fazendo o trabalho de casa até dia 16, pode ir ouvindo as récitas do Ouro do Reno em directo da Metropolitan Opera House aqui.

Terfel como Wotan.

Concerto de Abertura da Temporada T.N. São Carlos



A tarde abriu às sete e meia com um quarteto de cordas que tocou à porta debaixo da arcada. Foi prejudicado pelo violinista da esquerda, que produziu sons feios várias vezes – num instrumento que me pareceu não ser de grande qualidade. Seguiu-se pelas 8 horas uma sequência de arranjos para metais, que tocaram na varanda obras também conhecidas, como o tema da Arlesienne. Infelizmente, não fui ao concerto do salão nobre de canto e piano, que é algo que me agrada muito. Peço portanto a quem tenha ido que diga o que lá se fez. O Bartolomeu ouviu trechos de ópera, nomeadamente uma ária de Le Villi e um dueto do Elisir -- executados exemplarmente. Outra fonte acrescenta que além desses, cantou-se apenas "Donne miei" de Così Fan Tutte.

E, por fim, às 9 horas, a Sala principal do teatro foi aberta ao público (sem lugares marcados) para se ouvir a direcção de Martin André do Stabat Mater e do Te Deum de Verdi na primeira parte e, depois do intervalo, a Sinfonia Manfred de Tchaikovsky. Pela milésima vez: os bilhetes estavam esgotados. Os bilhetes sim, mas os lugares não! Uns oito camarotes estavam trancados à espera de pessoal do São Carlos que não os encheu; duas frisas ocupadas pela imprensa, e nos cantinhos da sala cabiam à vontade mais uns 10% do total presente. A primeira parte pareceu-me fraquinha: o coro do TNSC cantou mal quase todo o tempo, com algumas abertas de inspiração. O Maestro André não pareceu muito dentro da coisa, tendo tido uma prestação aceitável. Já estávamos todos deprimidos quando chegou a Sinfonia. É simples; foi de arromba. Foi  quase irrepreensível. André demonstrou-se uma mais-valia, a final de contas. Deixou a música viver lenta, vivaz, andante e alegre. Quer negra, quer profundamente harmónica. O público parecia um misto de disciplinado e indisciplinado, deixando sempre o som morrer em silêncio – mas aplaudindo sempre e entusiasticamente entre os movimentos. Muitos bravos se gritaram, mas o Director Artístico deixa encores de lado, convidando-nos a explorar a parcialmente raquítica temporada. Só espero que ele aprenda a vestir-se entretanto.

Leia aqui a declaração que Martin André publicou no programa. 

«A Dama Das Camélias» VS «Os Maias» OSSIA Nova aquisição

Doze anos depois da pena de Dumas, ainda andava Eça de Queiroz sonhando com Os Maias, onde viria a citar esta obra-prima várias vezes, lembrando a pálida Margarida Gautier e a famosa cena do dinheiro. Cena essa que foi transportada para a Traviata de Verdi, e que também os Maias ouviram várias vezes ao longo das deliciosas 700 páginas. Na frisa que tomavam de assinatura em S. Carlos, os Maias foram ao «Barbeiro», à «Lúcia», à «Norma», aos «Huguenots», ao «Trovador» - quando ainda cantava a célebre Patti. Podemos curiosamente observar nos Maias algumas críticas à qualidade do S. Carlos já nessa época. Como dizia o Taveira ou o Cruges (não tenho a certeza de qual) «Isto só ao pontapé!».

(Carregar nas imagens para as aumentar.)

Bilhetes abertura da temporada SC Esgotados

Pois; é verdade o que diz a newsletter. Anunciei aqui que os levantamentos (grátis) começavam à 1 hora da tarde de ontem. Parece que antes da 1 hora, já havia uma grande fila para os bilhetes. E pelas quatro, já os não havia!
Agora reparem-me neste anúncio pomposo!... Digna de Elgar, hem?

Romeu e Julieta @ Coliseu dos Recreios, 24-25 de Setembro de 2010

Chegado do Coliseu, escrevi sobre ontem que afinal já é anteontem e, portanto, estou a escrever sobre ontem.

Não tivemos orquestra a sério: a célebre música de Prokofiev que se ouviu proveio de uma gravação de qualidade sonora nada superior, de direcção musical pouco interessante, na minha óptica.

Também a poupar eram os cenários, simples, bonitos e alternados. Os figurinos estavam bem concebidos, pelo que temos este campo positivo.

O Ballet de Moscovo interpretou uma coreografia que me pareceu ser pouco coordenada com a Música Imortal e Apaixonante, mas aceitável.

Sem grandes palavras, concluo dizendo que foi uma noite bem passada.

Così Fan Tutte @ Gulbenkian, 23 de Setembro de 2010

Teve-se um bom espectáculo. Integrado no festival de Mozart da Gulbenkian, tivemos René Jacobs à frente de uma orquestra quase perfeita, calhando bem à música deste compositor.

A "semi-encenação" não foi tão eficaz como a última que o Plácido Zacarias viu. Talvez se devessem ter recorrido a alguns adornos para condizer com a história, cuja comicidade pede referências cénicas. Não houve movimentos nem actuação notáveis. Adorei os disfarces dos soldados: hilariante imitação da Cova da Moura.

Fiordiligi foi uma soprano de bonito timbre -- que por vezes até fazia lembrar Fleming, nas notas graves -- que soube utilizar os seus recursos vocais; mas não é actriz de notar. Arrasou na ária "come scoglio".
Já Dorabella é uma meio-soprano de timbre banal e de expressividade talvez um pouco aquém do que se quer.
A empregada, médico e notário teve um desempenho regular, sendo que lhe valeu sobretudo a sua actuação emotiva. Destoa-lhe é o péssimo sotaque italiano.
Guglielmo cantou bem, mas empapava as palavras de modo que no início não lhe apanhava quase nada.
Ferrando não tem grande voz, e não actua mal.
O Don Alfonso é um caso de primeiras aparências erradas: simplesmente não canta para os espectadores, provocando som tipo "dall'interno" indesejável. Mas tem cá uma voz e um papelão!... E é, no fundo, um bom actor.

Casa cheia e janela aberta. Contou-se com a presença de S. Exa. a Ministra da Educação e de Mota Amaral. É também de notar que as legendas traziam uns erritos -- incluindo o clássico "ás".

=====================================
René Jacobs Maestro
17/20
----------------------------------------------------------------------
Semi-Encenação
14/20
-----------------------------------------------------------------------
Alexandrina Pendatchanska Fiordiligi
16/20
-----------------------------------------------------------------------
Marie-Claude Chappuis Dorabella
14/20
-----------------------------------------------------------------------
Sunhae Im empregada
16/20
-----------------------------------------------------------------------
Johannes Weisser Guleglielmo
15/20
-----------------------------------------------------------------------
Magnus Staveland Ferrando
16/20
-----------------------------------------------------------------------
Marcos Fink Alfonso
17,5/20
-----------------------------------------------------------------------
GLOBAL
16/20
===================================== 

--Edit--
A quem tenha visto este post com ideias acerca das duas personagens femininas principais trocadas, peço desculpa. Tive duas razões que me baralharam. A primeira foi que quando escrevi o post original à uma da manhã, estava acordado desde as seis e meia da manhã. A segunda foi que entre as fotografias das ditas senhoras e as suas verdadeiras aparências físicas vão algumas oscilações...

Bilhetes para abertura da temporada S. Carlos dia 25

Duvido que alguém esteja interessado. No entanto, o anúncio, a newsletter, etc., dizem que os espectáculos nocturnos de inauguração precisam de levantar bilhetes de graça. Mas essas tais 'senhas' só se podem levantar a partir da 1 da tarde de amanhã.

Temporada 2010-2011 Teatro Nacional de São Carlos


No lançamento hoje de manhã. Agência Lusa.

Veio, de facto, um Gianni Schicchi. Para tristeza do Blogger do «Ópera Para Principiantes», não há nem Massenet nem Leoncavallo. Pelos vistos, André é mesmo o sucessor do alemão. Só para começar, o TNSC tem a lata de anunciar a D. Branca como se fosse temporada 2010-11 e não 2009-10. Temos verismo; temos dois grandes dramalhões d'amore violento -- Cavalaria Rusticana e Carmen --; temos repertório moderno, como Janacek, Gershwin e Nino Rota. Ou seja, esperamos 5 operas a sério. Eu estou a ver é que repetimos este desastre económico com metade das óperas.


O que interessa....

Donna Branca - 29 de Setembro a 5 de Outubro.
Novidades: A. Stundyte, John Hudson. Dir. musical de Johannes Stert.
(Salta o tal doente Casciarri e vem John Hudson.)

Cavalaria Rusticana - 3 a 7 de Novembro.
Novidades: Sónia Alcobaça. Dir. musical de Martin André.

Kátìa Kabanová - 8 a 18 de Janeiro.
Novidades: Magnus Baldinvsson, Arnold Bezuyen, Dagmar Pekova, Hans Georg Priese, A. Stundyte. Dir. musical de Julia Jones.

Gianni Schicchi + Blue Monday - 10 a 19 de Fevereiro
Novidades Puccini: Yannis Yannissis, Leonardo Capalbo, (Ana Paula Russo). Direcção musical de Moritz Gnann.

Carmen - 11 a 26 de Junho
Novidades: Rinat Shaham, Andrew Richards. Direcção Musical de Julia Jones.


O que não interessa nem ao menino Jesus....

Il Capello Di Paglia Di Firenze  - 14 a 21 de Maio.

«Banksters», de Nuno Côrte-Real - 18 a 26 de Março.

Mantém-se a malta do costume: Maria Luísa de Freitas, Chelsey Schill, Luisa Francesconi, Carlos Guilherme, João Merino, João Oliveira, Leandro Fischetti, Musa Nkuna, Luís Rodrigues, Marco Alves dos Santos, Mário Redondo, etc.

E ainda assim, tanta gente estava hoje na bilheteira e ao telefone a comprar frisas, camarotes e demais lugares!...

Leitura -> É melhor não contar com mais de 5 óperas...

Mais novidades acerca da nova temporada São Carlos

Como postei há pouco, estive no São Carlos há duas horas, e aproveitei para espreitar os cenários que andam a trabalhar. De um poleiro de quarta ordem, consegui claramente ver o pouco que lá havia montado. O pano era branco e estava caído, com as seguintes letras bem visíveis:

VOT

Havia mais duas letras cortadas a ponto de serem quase impossíveis de decifrar. Parece estranho, mas ali, nos piquinhos das letras à vista, podíamos especular

VOTAN (Wotan?)

Talvez mais Wagner?... Só teremos a resposta no dia 15 pelas 11h a.m. Não compreendo é o motivo de aguardar 4 dias quando o anúncio está atrasado pelo menos um mês.

Eis uma montagem feita por mim no Paint a mostrar como era mais ou menos aquilo que me lembro de ver:


--Edit--
Chamo a atenção para o 1.º comentário anónimo. Mas pergunto ao seu autor o que é que tais coisas, expostas como restos da última produção do Anel, estão lá a fazer.

Festival Cantabile: Última Noite @ São Carlos, 10 Set 2010

No programa de hoje, houve 5 lieder de Strauss, música moderna de Schnittke e um trio para violino, violoncelo e piano de Brahms. Não pude ir ontem à masterclass do Tom Krause.  :'-(

Laia Falcón cantou acompanhada ao piano por Ralf Gothóni. Teve um desempenho regulgar, mas esqueceu-se de sondar o espaço do Salão Nobre: notou-se que o "volume" do canto estava transportado para um grande espaço, sendo que cantou demasiado "alto". Demonstrou, no entanto, que tem uma voz bonita e compreende o espírito do canto de Strauss. Técnica impecável. Em suma, muito bem. Na minha escala, 16,5/20... se bem que a minha companhia afirme um 13...
A música atonal de Schnittke foi para piano e violino. Quem tocou violino foi Elina Vähälä, deliciando-nos com o seu Stradivari de 1678 (!!). Maravilhoso.
De Brahms, ouviu-se um trio muito bem interpretado, sendo que no final do último movimento, o tradicional "bravo!" a quebrar o silêncio foi substituído por um vigoroso "Boa!!".

Um bom espectáculo sem qualquer sequência na escolha do repertório.

--Edit--
Elina Vähälä também tocou no outro dia obras de Mozart na Gulbenkian.

JÁ ESTÁ DEFINIDA A NOVA TEMPORADA DO S. CARLOS

(Breaking news!!)
 Tal como foi anunciado há momentos, as assinaturas estarão à venda a partir de 15 de Setembro para antigos assinantes e 24 de Setembro para novos assinantes. Bilhetes avulso a partir de 4 de Outubro.

Estas informações foram por mim obtidas directamente do pessoal do S. Carlos:
A temporada será anunciada ao público em geral no Salão Nobre no dia 15 de Setembro (4.ª-fª) pelas 11h a.m., com a presença de S. Exa. a Ministra da Cultura -- Gabriela Canavilhas.
Portanto, ao comprar assinatura não se estará a lançar à sorte.


(Infelizmente, o Plácido Zacarias não poderá estar presente, pelo que pede a quem possa que transmita informações acerca do decorrer da festa e, se interessado, redija texto para aqui se mostrar à "blogosfera operática".)

--Edit--
Mais uma vez, chamo a atenção para o terceiro comentário (anónimo). Alguém sabe quem é o autor?

Rigoletto a Mantova @ RTP2, 4-5 Set. 2010


Eis a minha opinião:

O Plácido, ao contrário do que fez com o Boccanegra, em vez de se adaptar ao papel de barítono, transforma o mesmo em papel de tenor placidiano. A tal questão de ser ou não expressivo parece-me mais uma questão de apurar o personagem do que não ter expressividade. Afinal, o que é que ele deve exprimir exactamente em cenas como a do Sparafucile?

O Grigolo não foi Duque: foi antes o Rei - dos perdigotos. Nunca vi nenhum cantor a cuspir tanto como ele desde o Pavarotti. O seu físico acenta bem no Duque, se bem que eu imagine o Duque mais gordito com barriga de cerveja a assentar na La donna è mobile. Acho que a voz é muito 'leggera' para o papel. Ele que se ponha a pau, ou transformar-se-á num 'démodé' 'lirico-spinto'.

Já não me lembro do nome da Gilda, mais foi excelente em tudo: actuação, canto. Tem também uma figura elegante que assenta bem na beleza ideal da Gilda.

O Sparafucile do Raimondi não me convenceu. Para começar, o físico não se adequa, porque o irmão de uma jovem dificilmente é um velho. A voz apresenta acentuados sintomas de idade, tendo-me sugerido pouca ferocidade, mas muito canto feio.

Os espaços foram muito bem escolhidos. Ponho-me até a questão de se o Plácido passou do 1.º para o 2.º quadro em directo... Aquela janela aberta do II acto foi pena, porque o pingo que o Plácido soltou do nariz para a cabeça da Gilda já estava a ser há muito acompanhado por mim. Mas acho estranho que um assassino viva num castelo. Um sítio muito mais simples poder-se-ia ter arranjado, contando também que houvesse rio à vista. A operação de câmara não foi má, mas poderia ter dissimulado os olhos do Raimondi quando ele olhava para fora, ou ter mostrado menos tempo o panorama do céu-da-boca da Gilda.

============================
Balanços
============================
Plácidão
17/20
----------------------------
Grigolo
16/20
----------------------------
Gilda
18/20
----------------------------
Raimondi
14/20
----------------------------
Mehta + Orquestra Rai
17/20
----------------------------
Selecção espacial
18/20
----------------------------
Figurinos
19/20
----------------------------
Câmara
16/20
============================

Colecção "Ópera": no 1: "Rigoletto - Verdi, 2ª Ed." (1947) - II

Por ocasião da transmissão do grandioso «Rigoletto» com o Plácido à frente...

(Para obter melhor resolução, carregue nas imagens.)



É triste observar que um cantor aqui referido como um dos principais intérpretes do Rigoletto, Joseph Kaschmann, cuja fotografia aparece ao lado da do próprio Verdi, caiu em esquecimento tal que nem uma referência ao seu nome o Google encontra... Esta é para a "Memória da Ópera".


Na sequência da imagem anterior, um texto esclarecedor acerca do conhecido encontro de Rigoletto com a censura... E algumas informações interessantíssimas acerca da decorrência da première desta obra eterna.



Algumas informações acerca desta ópera em Portugal... e mais recordações de grandes cantores há muito desaparecidos, dos quais destaco Adelina Patti, De Lucia, Caruso, Tito Schippa, Miguel Fleta, Titta Ruffo, Carlo Tagliabue, Gino Becchi.



Ponho aqui esta imagem para indicar que muitas vezes se esquece que Sparafulice era um assassino pago e que dificilmente poderia ter uma grande casa -- que desta vez, com o Plácido, até era um castelo. Não me parece por acaso que o Duque lhe diga que vá "dormir no inferno, ao relento ou onde lhe apetecer"; mas porque num casebre destes o espaço é pouco.


Parece-me estar a ver a Patti... mas 60% de hipóteses de estar errado. Algumas ideias?


Quase de certeza que vejo O Magnífico Eterno Duque Caruso à esquerda.


....E algumas informações que eu desconhecia acerca do dueto final, acrescentadas a mais um injusto enaltecimento de Verdi. Pois bem, Puccini e Wagner imitaram Verdi? Eu não me atrevo a andar a pesquisar numa partitura de 1000 páginas por acto de Wagner, mas posso adiantar que antes de Verdi escrever o quarteto "Bella figlia dell'amore" (RébM ou Sibm), já Donizetti escrevera "Chi mi frena in tal momento" (SolbM ou Mibm). E de um para o outro, acrescentando-se um bemol à escala, até parece cópia. Já o Caruso sempre os agrupara em gravações. E vêm-me dizer que o meu querido Puccini imitou? O autor ganhe juízo, porque antes de estrear La Bohème em 1896, Puccini já tinha a linda canção "Sole e amore" em '88 sobre um assunto totalmente diferente e antes de ter ouvido falar em Illica, Giacosa ou Murger.

Depois de feitas as digitalizações, lembrei-me que seria boa ideia copiar para aqui a tradução de "La donna è mobile":
«A mulher é como a pena ao sabor do vento: muda constantemente de tenção e de pensar. Seu rosto gentil é agradavel mente sempre, quando ri, quer quando chora. Será sempre infeliz quem nela se fiar e lhe confiar desprevenidamente o coração, mas também não pode ser completamente feliz sem se saborear o amor naquele seio.»

ANEXO: Recordando os antigos...

1. Titta Ruffo: Rigoletto


2. Fernando de Lucia: Duque de Mântua (A soberba Donna è mobile ainda não chegou ao YT)


3. Luiza Tetrazzini: Gilda