La Fanciulla Del West | Informações dos 100 anos

Bem sei que antes de termos por cá La Fanciulla del West em transmissão ao vivo, temos ainda o Don Carlo de Verdi com um extraordinário elenco e uma encenação que promete; mas, para mim, uma ópera de Puccini é uma ópera de Puccini e tem prioridade.

Uma das imagens pubilicárias da produção comemorativa do centenário, no Met.

O que tenho aqui para partilhar, em primeiro lugar, é o artigo do New York Times que se refere à estreia na antiga Metropolitan Opera House.

 
Fac-símile recortada do artigo do jornal New York Times editado a 11/12/1910.
Carregue nas imagens para as aumentar.

Em segundo lugar, queria deixar umas frases soltas da entrevista que Deborah Voigt deu recentemente a Matt Dobkin, relativa ao papel de Minnie da Fanciulla del West, que cantará no Met a partir do dia 6 de Dezembro por ocasião da comemoração do centenário da estreia (que será apenas 4 dias depois) e que será transmitido ao vivo para todo o mundo na matinée de 8 de Janeiro.

"She is a lot of fun to play." "Minnie is a chick of a different feather."
"(... ) people assume that (...) there must be huge vocal shifts. But I don’t really feel that way. (...) She’s not a breeze by any means! (...) She has a couple of really perilous high Cs that come out of nowhere."
"(...) [Minnie] requires a certain change in color or timbre. The word “voice-wrecker” comes up a lot when people talk about Minnie! But I think that may be because a lot of the women who eventually sing the role come from more lyric Italian repertoire."
"I’m just feeling really excited that I get to sing it (...) Well, I am the girl for the job!"

Imagens publicitárias na nova produção do Met.
 
...Tal como a Butterfly. Devo dizer que acho esta ópera interessantíssima, na medida em que claramente se notam reminiscências de um Puccini Butterflyado que evolui para um outro estilo, dentro do qual se esboçam Suor Angelica, Il Tabarro e a Turandot. (Apesar de La Rondine ser uma ópera muito bonita, de deficiente libretto, dificilmente a encaixo nesta sequência estilística.)

Para terminar, em jeito de crítica, gostava de recomendar uma biografia de Puccini:
Conrad WILSON, Giacomo Puccini, Phaidon Press, 1997/2008 - ISBN 978 0 7148 4775 7.
Eu comprei esta por 11,34€ na Fnac, se bem que esta o tenha comprado por 9,95€. A ideia de que o livro em inglês pode ser de difícil compreensão não passa de uma ilusão, visto que a linguagem é acessível, sintética e precisa. Das 238 páginas, muitas são imagens de grande interesse. Concorrendo, há um livro com uns binóculos na capa traduzido para português, mas esse não tem tão boa informação nem tantas imagens -- mesmo sendo o preço quase o dobro do outro.

Strauss, Mozart & Mahler @ Gulbenkian, 19/11/2010

O prelúdio do Morcego (Strauss) e o 24.º concerto para piano de Mozart constituiram a primeira parte. O Maestro Jean-Claude Casadesus aplicou tempi muito irregulares que não me satifizeram muito desde a primeira peça. Depois, pelo piano, também não houve nada de admirar. Perfeitamente aceitáveis, ainda assim. Como encore, o pianista tocou um nocturno de Chopin -- que lhe valeu muitas das palmas.

Fotografia do programa do maestro Casadesus.
A segunda parte foi o motivo que me chamou ao Grande Auditório: a 4.ª sinfonia de Mahler. Esta extraordinária peça causou já alguma impressão; mas três coisas me desconsolam: a orquestra abafa o som do solo de violino, cuja audição me parece fundamental; e, por várias vezes, os tímpanos pareceram-me estar a fazer demasiado barulho. A soprano Olga Pasichnyk, a pesar de cantar muito bem e ter um timbre bonito, não se conseguiu fazer ouvir.

Estava aqui a ler que o maestro Casadesus tem 75 anos. Será possível? Mexendo-se com tal agilidade e apenas com meia dúzia de cabelos brancos? Tomara aos muitos encatarroados estarem como ele!!

Novidades no YouTube: um cromo e uma pérola

No meu habitual "passeio" pelo YouTube, encontrei uma coisa daquelas que se vê e recorda sempre com alegria nostálgica; e outra que já é da casa.

A primeira é este filme com duas sequências do segundo acto da Bohème de 1996 em S. Carlos, com a Mimì da nossa Elisabete Matos.

Como nunca me canso de ver a Bohème ou qualquer ópera de Puccini, reparei nas legendas que traduzem as expressões em latim que nunca vira traduzidas até à data.

A outra é o nosso cromo -- que ainda há tempos tornou ao palco de S. Carlos -- a falar de Monarquia...


Don Pasquale | Met Live in HD

Principal fotografia publicitária da produção: Anna Netrbko como Norina.
Netrebko, Netrebko, Netrebko. E mais Netrebko. O espectáculo, na ausência do Ernesto de Diego Flórez (como na última produção), foi direccionado para um nome -- Netrebko. E não era caso para menos; a expectativa era a perfeição. No entanto, não sei se terá sido impressão minha, mas pareceu-me que a Diva não estava na sua total forma vocal. E apenas falo em vocal, porque é certo que cenicamente foi um estrondo: adaptou-se perfeitamente ao carácter cómico que se pedia.

Netrebko no acto II com Malatesta e o excelente Don Pasquale (John Del Carlo).
John Del Carlo não é um cantor de grande renome -- mas um artista formidável. Tem um timbre de baixo seguro e técnica impecável, enquanto que como actor é do melhor que há. Só as suas expressões faciais foram um componente impagável do espectáculo. Sem grandes extravagâncias, actua perfeitamente em tempo e com grande comicidade.
Matthew Polenzani cantou o papel de Ernesto. Tem um timbre muito bonito, que optimiza ao máximo. Decerto não deixou ninguém a chorar porque queria ver o Flórez. Foi pena é ter ficado rouco no princípio do acto II. Talvez tivesse sido melhor ideia "limpar" discretamente a voz a meio. (Ou sou eu a inventar?)
Malatesta foi cantado por Mariusz Kwiecien. Foi óptimo, mas não me encantou como os outros. No meio de um elenco de cinco estrelas, alguma estrela há-de ficar ofuscada pelo brilho das outras...
A encenação (que desta vez vem no fim, depois da Netrebko) era a antiga. Óptima, como sempre. Talvez pouco detalhada onde devia e detalhada em aspectos de mais indirecta compreensão, como a cama partida de Pasquale: seria o velho gordo? Seria a cama velha e o velho forreta? Muita gente chamaria kitsch ao acto III. Eu prefiro fazer aquelas perguntas e dizer que adorei.
Levine foi óptima batuta, como sempre.

Netrebko no acto III, no dueto com Pasquale.
No início, mal começou aquele ritual das tosses ("cof!"; e responde o outro de trás; "cof!", "estou aqui", chama o do lado), houve logo várias pessoas que ruidosamente mandaram as outras calar com marcados "shh!". Entre o público, esteve o ex-ministro Roberto Carneiro, pai da maestrina Joana Carneiro.

Queria aproveitar para, na sequência da análise da temporada do Metropolitan, deixar esta imagem. 
Bryn Terfel apontando para Eva Wagner no jantar da gala de abertura da temporada

Live Streams from The Met

Vinha aqui um indivíduo todo feliz, lendo que
"Did you know you can listen to one live performance a week on the Met's website or your mobile phone?
Tonight, hear the premiere of Mozart's "Così fan tutte", starring Danielle de Niese, Miah Persson, Isabel Leonard, Pavol Breslik, Nathan Gunn, and William Shimell, with William Christie conducting in his Met debut. Tune in at 8pm ET."
e que
"The Met’s free weekly live stream has been upgraded! It’s now even easier to enjoy live performances in high-quality sound from the Met’s own website – and now on your mobile devices. All you have to do is “click and play.” Check our “schedule” link to the left for the complete list of this season’s weekly opera performances to listen live from the Met’s stage." (Fonte)
... quando se lembrou que isso aqui é à uma da manhã: e quella è la solita storia del Plácido Zacarias.

Cavalleria Rusticana @ S. Carlos, 3 de Novembro de 2010

«A curiosidade matou o gato» Vox populi.

Aconteceu tudo muito ao contrário do que eu previa.
A "ópera contada por uma actriz", que se poderia por alguns julgar interessante, não foi apenas "contar": foi interromper cena a cena como se faz na Flauta Mágica traduzida e narrada para crianças no festival de Óbidos. Não é certamente coisa a fazer na noite de estreia (e restantes récitas) do espectáculo do único teatro de ópera nacional, com um discurso que diz coisas como "o intermezzo [ââh...] é quase uma peça pop do mundo clássico".
Pensava eu, descartando que por aqui diziam "André não é frequentável", que o director artístico ia ser muito bom tal como fora no espectáculo de abertura da temporada. Qual quê! A meu ver, os tempos e as dinâmicas empregues foram desajustados à música. O intermezzo foi estragado.
Outra supresa foi o coro, visto que desta vez, cantaram bem as vozes masculinas, enquanto as femininas estiveram mal. (Curioso foi ver que na primeria actuação do coro houve barulho e dessincronização no levantar, sentar, etc., enquanto na segunda, foi tudo à décima de segundo. Falta de ensaio?)
Ia eu naïfmente pensando que se uma obra-prima destas era em versão de concerto, era porque estavam muito certos da razoabilidade das prestações dos cantores... no entanto,
Sónia Alcobaça cantou monocordicamente o papel de Santuzza, com o seu timbre desinteressante, de linha de constante vibrato sem qualquer forma de expressividade.
Turiddu foi interpretado Fernando del Valle, que é do mais desinteressante que há: empapa o som, não se faz ouvir, tem timbre feio e é rouco. A meio do dueto com Santuzza, deu-lhe para o spinto, enterrando-se mais na sua debilíssima técnica.
Luís Rodrigues fez de Álfio. Não esteve nas suas melhores condições vocais, tendo-lhe escapado a voz a dada altura no Il cavallo scalpita. O resto já se lhe conhece.
Luísa de Freitas assumiu o papel de Lola. Ao contrário da minha ideia inicial, a cantora safou-se, demonstrando que, apesar de ter timbre feio, tem grande capacidade técnica. Não destoou em nada no espectáculo.

Assim a olhómetro, os camarotes, frisas e balcões estavam a uns 30% (com colunas inteiras livres) de lotação, enquanto a plateia comportava uns 60% da sua capacidade. Martin André já se vestiu bem! Por lá estava passeando, se não me falhou o olhar, Jorge Salavisa, sendo que não se contou com a presença da Sr.ª Ministra.

★☆☆☆☆
Para esquecer. Querem acreditar que estou com remorsos de ter estado sempre em cima do pobre e desinteressante alemão?

Colecção "Ópera": no 14: "«Cavalleria Rusticana» - Mascagni" (1947) - III


Fotografia rara de Pietro Mascagni. (Inédita na Internet?)

Carregue na imagem para aumentar. Informação interessante acerca de um maestro importante em S. Carlos, "famoso pela perícia e pela má criação" e algumas reflexões acerca da "inspiração de Keil".
 
Ora aqui está. Ainda assim, quando falo dela, é sempre a Cavalaria para aqui e para ali... para os amigos!

Mais fotografias inéditas na Internet.
Caruso como Turiddu. (Oiçam aquele "Addio alla madre" e a canção do brinde com ele!!!) E mais informações acerca da Cavalleria em São Carlos.

Ante-Zeffirelliano.


Vejam os tempos! Tivemos cá a prima donna do papel, a primeira Tosca, o Grande de Lucia, o Fenomenal Gigli!... Agora temos a Luísa de Freitas para nos consolar no outro papel...

Imagem inédita na Internet e documento histórico de grande importância musical: o encontro do Gigante Caruso com o Bravo Toscanini. Outros tempos!...

Caruso como Turiddu: "Larga-me! Não sou teu escravo!"
Estais agora prontos para a estreia da Cavalleria que se avizinha em S. Carlos?...

Volumes desta série anteriormente publicados:
Rigoletto, 1, II