Separata (Dez 2010)

Vai não vai, quero escrever aqui algumas "coisinhas" que parecem tão impertinentes que nem as publico. Às vezes, ficam em rascunho; outras vezes, esqueço-me. Para terminar este ano de 2010, inicio uma nova rubrica que, não me lembrando de outra palavra, chamo de "separata". Tenciono acumular essas "coisinhas" e, vai não vai, pô-las aqui.

A árvore de Natal no TNSC este ano.


O serviço público de limpeza nas escadas do largo de S. Carlos em Dezembro de 2010.

Alguns pormenores que demonstram a glória do Teatro Nacional de São Carlos. Dezembro de 2010.

"Estamos a abrir as portas a toda a gente: podem vir de calças de ganga, sem gravata ou jóias caras" -- disse Martin André em entrevista à Rádio Renascença.
(A sério?? Posso mesmo??? De certeza????)
"Vão à bilheteira, tomem um copo de vinho no bar e ouçam a 'Cavalleria Rusticana'" -- Martin André (Fonte)
(Ir bem bebido era, de facto, coisa essencial para essas récitas...)

O Plácido Zacarias deseja a todos os frequentadores deste blog um óptimo ano de 2011, começando logo por aqui na primeira semana (antes mesmo Da prometedora Casa dos Mortos de Esa-Pekka Salonen) com um debate. Espero conseguir ter por essa altura a atenção do maior número de leitores possível, para que possamos obter um debate rico e interessante.

Colecção "Ópera": no 42: "D. Carlos - Verdi" (1951) - IV





Oberve-se bem o que era antigamente, já em tempos considerados de decadência, uma récita de patear em S. Carlos. E se os nomes do outro século parecem demasiado obscuros, com certeza ninguém desconhece Tito Gobbi, Italo Tajo ou Giuglio Neri

(Eu cá prefiro "a" Freitas.)





Não posso deixar de passar aqui uma tradução daquele que para mim é o trecho mais emblemático da ópera (a par do dueto, que está apenas "e os dois juram amizade e lealdade até à morte").


Dueto final do acto V.
Volumes desta série anteriormente publicados:
Rigoletto, 1, II

Don Carlo | Met Live in HD

Esta produção, apesar de ter sofrido ligeiras alterações, foi vista pela primeira vez em 2008 na Royal Opera House de Covent Garden, tendo sido fortemente ovacionada. Também o grande auditório da FCG voltou a encher em relativamente pouco tempo e a ter muitos espectadores batendo palmas.

Imagem publicitária da Gulbenkian.
Alagna, fazendo de Carlos, mantém uma postura demasiado confiante, exibicionista e cheia de mau gosto na actuação e no canto. Produziu imensos sons feios e por vezes forçados (mais nas notas fortes do que nas agudas?), enquanto actuou como em qualquer outro papel: heroicamente mesmo devendo ser romântico. Em todo o caso, estas críticas são apenas preciosismos cépticos...

Primeiro acto em Covent Garden (2008), com Villazón.
O túmulo de Carlos V no acto II (fot. Covent Garden). Nesta produção, o túmulo não tinha degraus. Originalmente, em 2008, estes serviam de apoio cénico a Poplavskaya, que não os soube usar.
O cenário do 2.º quadro do acto II. Na minha opinião, este cenário foi demasiado pensado. Parece-me há pouco equilíbrio entre as formas. É evidente que os ciprestes pretendem criar harmonia com as "escadas" vermelhas, vindo na sequência dos coquelicots de trás; mas acabaram por tornar a imagem pesada e demasiado cheia.
Elisabete (Poplavskaya) e Carlos (Alagna), no segundo quadro do segundo acto. Nesta fotografia, observa-se grande cuidado com composição, proporção, equilíbrio e harmonia de cores, que se associam à beleza dos trajes. Acho que a ideia do contacto físico deveria ter sido mais desenvolvida.  Respondem-me "ah, e tal, mas isto tem tudo que ver com o afastamento". Afastamento físico, mas proximidade de espírito! E isso deve ser representado.
Poplavskaya esteve como Elisabete. Como diz o júri dos "Ídolos": "cantas bem mas não me alegras". A soprano cometeu os mesmos erros de 2008, passando o seu problema por uma falta de expressividade que em nada fortalece a sua imagem pouco carismática, que assenta numa simples voz bonita.

Filipe de Espanha (Furlanetto) e Rodrigo (Keenlyside), no acto II. Muito bem concebido. Óptimo esquema de luzes!
Vindo de grandes êxitos, Furlanetto teve uma prestação irregular como rei. De início estava rouco, tendo terminado numa melhor forma que não corresponde às capacidades vocais que lhe tenho ouvido em gravações.
Já o Rodrigo de Keenlyside parecia ter estado a fumar com alguns destes senhores. Não esteve em grande forma vocal, mas cumpriu bem o papel.

Furlanetto no acto III. O edifício que se observa ao fundo foi bem esculpido numa só cor, encontrando um bonito contraste cromático entre o vermelho do sangue de Cristo e do fogo e o dourado da Igreja.
"Dai liberdade à Flandres."
"Ouvi estes homens que te traz teu filho."
A genial cena do diálogo com o grande inquisidor, igualmente concebida de forma formidável pela encenação.

A prisão no acto III. Simplicidade e equilíbrio linear.
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Encenação  
18/20
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Yannick Séguin Maestro + Orquestra 
19/20
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Marina Poplavskaya Elisabeth 
16/20
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Roberto Alagna Don Carlo 
17/20
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Simon Keenlyside Rodrigo
17/20
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Ferruccio Furlanetto Filipe II 
17/20
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Anna Smirnova Eboli 
15/20
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Eric Halfvarson Grande Inquisidor 
17/20
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 Câmara  
14/20
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 GLOBAL 
17/20
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(O programa tem umas trocas de personagens.)

Infelizmente, tal como acontece com frequência no resto do mundo, houve falhas bastante marcadas na transmissão audiovisual; mas nada que não fosse ultrapassável. Foi uma tarde bem passada.
As fotografias desta produção são da autoria de Ken Howard/Metropolitan Opera.

Aproveito para partilhar isto.

La Fanciulla del West | 100 anos

Por esta hora, há exactamente cem anos atrás, Puccini, Toscanini, Caruso, Destinn,  et al. estariam a  pouco mais de duas horas da estreia da ópera La Fanciulla del West. É a segunda vez que se celebra esta ópera neste blog -- homenagem merecida, na minha opinião. Sem mais texto ou informação, deixo um filme divulgado ontem, que representa um excerto da produção comemorativa do Metropolitan, que será transmitida em directo em alta definição em Janeiro.

 
Dueto do acto II da "Girl", como escrevia Puccini.

Piano: Beethoven & Chopin @ Gulbenkian 7.12.010

Quem tocou hoje no one-man show de piano foi Alexei Volodin. Na primeira parte, tocou sonatas para piano, e, na segunda, os 24 prelúdios de Chopin. O pianista esteve à altura da obra nas duas partes. Deixou-me curioso acerca do seu repertório, visto que me deixou a impressão de que estava ligeiramente à frente de Beethoven, e tinha algumas nuances de música mais moderna em Chopin. Segundo esta fonte oficial, que me parece incompleta, nada disso se confirma necessariamente.

Volodin tal como pisou hoje o palco da FCG.

O que é certo é que Volodin conseguiu chegar ao público pondo-o a aplaudir onde não devia. Como encores, tocou duas peças que eu não reconheci.
As tosses estiveram em auge e, tal como os aplausos fora de tempo, foram ruidosa e frequentemente mandados calar, como se tem (felizmente) visto na Gulbenkian. Estava até comentando com a malta que a Gulbekian poderia ganhar bom dinheiro se conseguisse aproveitar a energia das tosses.

Pérolas no YouTube: Kraus e Cotrubas em S. Carlos, 1990

Um excerto incluindo a soberba ária "Pourquoi me réveiller?", de São Carlos em Abril de 1990. Nessa noite, cantaram Alfredo Kraus, o deus do bel canto, e Ileana Cotrubas, a diva.

Gala de Ópera na Universidade de Lisboa

Novidades. Calha bem para quem queira ir estupidificar-se meia hora a seguir ao Dom Carlos...

Cartaz publicitário.
Programa
Eu só vos digo uma coisa: desde a última experiência que o Zacarias teve com um destes concertos de gala para ir de jeans (gala dos 99 anos da GNR, S. Carlos), ficou parcialmente jurado que era para nunca mais voltar! (Info bilhetes.)