Iphigénie en Tauride | Met Live in HD

Para começar um espectáculo daqueles que não se vêm todos os dias, Peter Gelb, o general manager da Metropolitan Opera House, dirigiu-se ao público, dizendo que alguns dos cantores que iam cantar estavam ligeiramente constipados. Felizmente, eu não notei nada; mas pareceu-me ouvir uma coisa MUITO esquisita a seguir ao discurso de Gelb. Alguém mo confirma?

Uma das imagens publicitárias
A encenação é tradicional, representando uma dialéctica bem pensada entre dois espaços: o interior e o exterior do templo. Por um lado, permitia a realização de efeitos cénicos interessantes, que foram bem explorados. Por outro lado, despromoveu a circulação de personagens de dentro para fora da cena e vice-versa, conferindo ao espectáculo um carácter algo estático.

Alguns observadores sugerem que, no interior do templo, havia um jogo de cores, apresentando o vermelho como o sangue sacrificial e a vergonha dos deuses, e o dourado como a regressiva glória dos deuses do templo.
Susan Graham assumiu o papel de Iphigénie sem constipações, tendo sido cantora e actriz de alta qualidade: uma intérprete de referência para este papel.

Graham e Domingo - uma das imagens publicitárias da produção.
Plácido Domingo, como Oreste, é um cantor muito inteligente que, aos 70 anos, ataca mais um papel de barítono. Cantando algumas notas agudas muito tremidas, eis que entram em acção o seu enorme carisma e a sua curiosamente inteligente técnica vocal. É sempre um prazer ver o Grande Plácido.


Paul Groves, como o grande amigo de Oreste, é mais uma pequena estrela cujo brilho é ofuscado pelo Grande Plácido. Groves canta bem, faz-se ouvir. Talvez tenha estado um bocadinho aflito com os tempi da orquestra em "Unis dès la plus tendre enfance", mas pode ser sido impressão minha.

Groves e Domingo.
Conduzindo a orquestra do Met esteve Patrick Summers que, a meu ver, teve uma óptima direcção musical: além de a orquestra em si ter produzido um som muito agradável e coerente dentro do que  proporciona a música de Gluck, não houve uma única vez em que se tenha abafado um intérprete.

"Deixai-o ir ou mato-me eu!". Grande Plácido!!!
Também foi agradável ter Natalie Dessay como apresentadora do backstage, que pela apresentação lá passou umas fífias, tendo-nos deixado já com uma antevisão positiva (ao contrário do que escreve o NY Times) da Lucia de Lammermoor do próximo mês.

Gianni Schicchi & Blue Monday @ Teatro Nacional de São Carlos, 13 de Fevereiro de 2011

Ora aqui está um espectáculo para entrar e sair na mesma.

Blue Monday esteve em estreia portuguesa numa produção mais ou menos proporcional ao que a ópera pede. Pessoalmente, acho que a encenação ficou aquém do que se deveria ter num teatro nacional. Uma sugestão concreta? Reutilizar, sem quaisquer remodelações, os óptimos cenários (e figurinos) de "Um Eléctrico Chamado Desejo", exibidos no Teatro D. Maria no ano passado.

Blue Monday: cenários pouco interessantes e figurinos mal concebidos (segundo os esclarecimentos do programa).
A soprano Laura Giordano -- que já cantou com Flórez -- foi substituída por motivos de saúde, tendo-nos deixado com uma Lauretta pouco interessante, em dueto com um Rinuccio (Leonardo Capalbo) de bonito timbre e pobre técnica, que nem sempre conseguia projectar a voz. Gianni Schicchi foi interpretado por Yanni Yanissis, que cantou bem, faltando-lhe expressividade quer no canto, quer na actuação. A encenação foi um fiasco.

Gianni Schicchi: a encenação promoveu o carácter cómico da ópera, exacerbando-o, por vezes, a proporções exageradas. O esquema das luzes esteve de tal modo que, mesmo estando no libretto que as luzes devem reduzir-se na cena do testamento, estas continuaram bem acesas.
Na minha ignorância, penso que a direcção musical em Gershwin não é um factor determinante, ao contrário de Puccini. Penso que a direcção musical do Director Artístico tendia a separar os instrumentos, não tendo conseguido atingir a subtil melodia de Gianni Schicchi, condizendo assim com a exagerada encenação da mesma ópera.

Exibindo duas óperas de um acto, pergunto-me se não se poderia ter antes levado três ao palco e ter o Tríptico. Parece que o espectáculo se integra num "ciclo" de três "óperas, que surge na sequência [do] Outro Fim (Culturgest, 2008), (...) feitas da mesma matéria. De fins evidentes", mas acho a ideia muito desinteressante e pouco acessível.

Exposição: "Expo/ Opera", de Augusto Alves da Silva

Este artigo já vem, provavelmente, tarde para muitos dos melómanos que, como eu, se interessam especialmente por ópera.

Cartaz oficial.
A exposição resulta de uma parceria entre a Fundação EDP e o TNSC, [...] o único teatro de ópera do País. "É sobre esse grande corpo (...) que a fotografia regista (...) um cão que descansa na vasta sombra do largo, o incómodo de um sem-abrigo preso ao chão do pórtico, a velocidade de uma jovem que dobra uma esquina ou (...) o trabalho exposto dos que preparam um espetáculo, a alegria suspensa das multidões (...)." [João Pinharanda]
(Fonte.)

"(...) a velocidade de uma jovem que dobra uma esquina (...)"
Tal como a mesma fonte refere, este é somente "o primeiro olhar de um ciclo expositivo que revela o TNSC por fora e por dentro", continuando apenas "a partir de 25 de Março". Por enquanto, quem for verá umas dez fotografias "banais": algumas bem apanhadas, e outras que até o próprio Plácido Zacarias pôs no blog.

Talvez seja interessante seguir o ciclo, mas há que ponderar a koltura versus tempo e guito.