1º de Dezembro



Elisabete Matos lidera uma estupenda interpretação da versão completa do Hino Português, acompanhada pela Orquestra Sinfónica Portuguesa e com o Coro do Teatro Nacional de São Carlos. Mais uma vez, um excelente programa de João Paulo Santos.

Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!

Às armas, às armas!

Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar!
Contra os canhões
marchar, marchar!


 *


Desfralda a invicta bandeira
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu
Beija o solo teu jucundo
O oceano a rugir d'amor,
E o teu braço vencedor
Deu novos mundos ao Mundo!

Às armas, às armas!

Sobre a terra e sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar!
Contra os canhões
marchar, marchar!


 *


Saudai o Sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal de ressurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injúrias da sorte.

Às armas, às armas!

Sobre a terra e sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar!
Contra os canhões
marchar, marchar!
(Henrique Lopes de Mendonça)

Artur Pizarro | Fundação C. Gulbenkian

Na última terça-feira, Artur Pizarro pisou o palco do grande auditório da Fundação Calouste Gulbenkian para interpretar as Goyescas de Granados, e Quadros numa exposição, de Moussorgsky.
Não contava ir a este concerto, mas o acaso revelou-se afortunado.

O pianista Artur Pizarro.

O pianista português tocou ambas as peças, de diferentes géneros, com emoção, e conseguiu mobilizar o auditório, cujos aplausos insistentes o levaram a tocar vários encores, com destaque a uma Suite Tango de Piazzolla, e a momentos musicais de Rachmaninoff. As interpretações não foram excelentes, nem perfeitas, mas foi uma pena que alguns dos melhores momentos tenham sido abafados pela tosse e pelos rebuçados do público -- uma falta de respeito ao público atento e ao artista.

que nota daria o(a) leitor(a)?
  
pollcode.com free polls 

Siegfried | Met Live in HD (Gulbenkian)

Um ano depois do princípio (este blog já fez um ano!!), põe-se a questão: o novo ciclo do Anel do Nibelungo da Metropolitan Opera House mantem a qualidade? Por um lado, a concepção cénica dirigida por Robert Lepage, através da Valquíria, tem sido complicada à medida que se desenvolve a própria máquina-diva; cada vez mais complexas se tornam as projecções e os movimentos (infelizmente bué de barulhentos), perdendo, por vezes, em harmonia -- mas ganhando em pormenor. Talvez a cena do dragão pudesse ter sido mais interessante, ainda assim...

Siegfried forja Nothung, a espada de seu pai.
Por outro lado, de quatro cantores gloriosos (Wotan, Loge, Fricka e Mime), passou-se apenas a dois: Wanderer e Mime. Nessa perspectiva, apenas Bryn Terfel, como o deus Wotan disfarçado, e o Mime de Gehrard Siegel estiveram "gloriosos". Na despedida do ciclo, os dois cantores estiveram brilhantes vocal- e cenicamente e, durante as óperas, acompanharam muito bem a evolução dos personagens desde o roubo do ouro do Reno até à união de Siegfried e Brünnhilde.

Três enigmas pôs Mime ao viandante, e aos três este lhe respondeu.
Jay Hunter Morris não me pareceu muito convincente. Não gosto muito do seu timbre rosnado, e tão-pouco da sua actuação mecânica que em nada corresponde à espontaneidade desinibida que se espera de Siegfried, o outro a quem o medo é uma cena que não lhe assiste. Compreendo que possa não haver muito melhores nestes dias, mas this is the Met! Deborah Voigt esteve bem, mas não me pareceu aproveitar totalmente os escassos minutos em que aparece no acto III. Em todo o caso, é difícil apreciar cantores fora dos seus reportórios adequados. Restam Alberich, Erda, Fafner e o pássaro da floresta, que foram muito bem interpretados na qualidade de papéis secundários.

Siegfried acorda Brünnhilde, na cena final. (Fonte das fotografias.)
Fabio Luisi acabou por tomar as rédeas da orquestra nesta produção pensada para o maestro Levine. Esteve mais ou menos à altura da tarefa, conduzindo exemplarmente a orquestra wagneriana até ao terceiro acto, cuja direcção musical achei um pouco rude. Em jeito de conclusão, quero notar que não tenho dúvidas de que esta é a melhor encenação moderna do Anel, e tem por grande virtude o facto de ser de essência clássica. Muitos criticam as produções tradicionais e as ultra-modernas, respectivamente, pela sua opulência, e pelo seu pseudo-avant-gardismo, mas parece-me que a máquina--verdadeiramente avant-garde--, custando milhões de dólares, está a afectar o orçamento para a escolha de bons cantores principais. Afinal, este Siegfried caiu de repente no Met, vindo de Paris, Texas!

Pela excelente encenação, por Terfel e Siegel!
que nota daria o(a) leitor(a)?
  
pollcode.com free polls